Os 10 melhores romances brasileiros
A Revista Bula realizou uma enquete para descobrir quais são os melhores romances brasileiros publicados esse ano. A consulta foi feita com colaboradores, assinantes e seguidores da página da revista no Facebook e no Twitter. Foram considerados apenas os livros publicados a partir do dia 1º de janeiro de 2018 e uma única obra por autor.
Os dez romances mais votados foram colocados em uma lista e divididos em quatro categorias, de acordo com o número de indicações: +60, +50, +40, +30. Foram lembrados autores de diferentes estados brasileiros, idades e perfis. As sinopses são adaptadas das editoras.
Livros que receberam mais de 60 indicações:
Entre as Mãos, de Juliana Leite
Conduzido com precisão e movido por uma poderosa força que impulsiona todo o relato, Entre as mãos gira em torno de Magdalena, uma tecelã que, depois de um grave acidente, precisa retomar seus dias, reaprender a falar e levar consigo dolorosas cicatrizes — não apenas no corpo. Com personagens e tempos narrativos que se atravessam como fios trançados, este romance tem a marca de peça única, debruçando-se sobre questões como sobrevivência e ancestralidade, mas também amor e mistério a partir do corpo, do trabalho e dos gestos da protagonista, em duas fases de sua vida.
Maior que o Mundo, de Reinaldo Moraes
Depois do enorme sucesso com o romance Strumbicômboli, Cássio Adalberto, mais conhecido como Kabeto, não foi capaz de escrever uma linha sequer do seu novo livro. O motivo: ele não consegue encontrar a primeira frase. A primeira, primordial sentença que irá dar o tom de todo o romance. Numa sexta à noite, ele cruza a cidade a pé até o Farta Brutos, o bar de onde é cliente cativo. Carrega consigo um gravador, onde capta suas impressões — ou qualquer coisa que lhe venha à cabeça. Kabeto, aos poucos, se revela inteiro ao leitor. Sempre no controle da narrativa, ele nos apresenta a personagens memoráveis e nos leva por um final de semana insano, cômico e trágico, até finalmente encontrar a fabulosa ideia para seu romance — mesmo que, para isso, tenha de burlar qualquer limite da decência.
Livros que receberam mais de 50 indicações
O Pai da Menina Morta, de Tiago Ferro
Fragmentário, composto por seções que formam uma espécie de estrutura caleidoscópica do luto, “O Pai da Menina Morta” é uma ficção sobre os reflexos da morte de uma menina de 8 anos na vida do pai. Gestado a partir de uma tragédia experimentada pelo autor em 2016, o livro não se restringe ao inventário doloroso dessa perda indizível, mas amplia o campo da escrita do luto a partir do manejo consciente e irônico de temas como auto imagem, sexualidade, humor, confissão, memória e fabulação. A morte da menina, aqui, é como a refundação do mundo para o protagonista. A partir do enterro ele sempre será visto como “o pai da menina morta”. Um livro comovente e aterrador.
A Gargalhada de Sócrates, de Nelson Moraes
Atenas, 399 a.C. O filósofo Sócrates, em seus trinta últimos dias de vida, na cadeia, à espera da fatal taça de cicuta, é inesperadamente confrontado por seu desafeto, o comediante Aristófanes, com um desafio: decifrar, através da investigação lógica, a identidade do criminoso em série que vem assassinando filósofos sofistas na cidade. Detalhe: o assassino envia recados cifrados a Aristófanes, em pequenos pedaços de cerâmica, avisando-o de cada um dos homicídios. Sócrates acha a provocação divertida e entra no jogo. Narrada em forma de diálogos — como convém ao contexto filosófico — a trama mostra, em tom abertamente cômico, o peculiar convívio entre o grande pensador e seu antagonista, que tantas vezes o satirizou nos palcos e agora vem recorrer a seus préstimos para tentar elucidar o mistério.
Dora sem Véu, de Ronaldo Correia de Brito
Francisca é uma mulher de meia-idade, casada e sem filhos, que decide se aventurar numa romaria a Juazeiro em busca de Dora, a avó que nunca conheceu — e que nem sabe se está viva. Leva consigo Afonso, o marido com um passado obscuro que tenta renegar. Na caçamba de um caminhão, enfrentam o calor e a sede. Na cidade dos romeiros, a violência e a impunidade. Nesta viagem reveladora, ambos irão enfrentar o amor, as suspeitas e a morte.
A Biblioteca Elementar, de Alberto Mussa
Na calada da noite, na hoje chamada Rua da Carioca, um homem de casaca, pistola na mão, ameaça outro com capa à espanhola e botas de cano longo. Atracam-se. A arma dispara. O de casaca cai ferido mortalmente. Há uma testemunha, cigana, que também tem lá suas culpas. Entre os crimes que perpassam este romance policial situado no Rio de Janeiro do século 18, apenas um é de fato relevante; apenas um resume e simboliza o livro. E, contraditoriamente, é o único crime que não acontece. Alberto Mussa opera a narrativa, conversando com o leitor e palpitando sobre os dilemas dos personagens sem abandonar o posto de narrador, ancorado em pesquisa do vocabulário da época, do contexto, das ruas do Rio, do tráfico de escravos, do contrabando de ouro e da ação inquisitorial.
Livros que receberam mais de 40 indicações
A Tirania do Amor, de Cristóvão Tezza
Enquanto espera o sinal para atravessar a rua, o economista Otavio Espinhosa toma uma decisão radical: abdicar do sexo. O que parece piada se revela uma profunda crise pessoal: um casamento falido, problemas com o filho militante político, o fim humilhante de sua carreira acadêmica e a experiência sui generis de ter tentado enriquecer como guru de autoajuda. Também a carreira de Otavio parece estar em perigo: tudo indica que ele será demitido da empresa de investimentos onde trabalha. O leitor vai aos poucos destrinchando a investigação de um esquema no qual Otavio pode ou não estar envolvido, desenhando o panorama de um país em ruína econômica, cultural e moral.
Nobel, de Jacques Fux
Nobel, o quarto romance do vencedor do Prêmio São Paulo de 2013, Jacques Fux, é uma viagem pelos segredos e curiosidades da Literatura Mundial. O narrador, agraciado com o primeiro Nobel de um escritor brasileiro, faz um discurso satírico durante a cerimônia de entrega do Prêmio. Nele, o autor comenta, analisa e julga as histórias escondidas, recalcadas, engraçadas e politicamente incorretas dos seus mestres contemplados: Svetlana Alexievich, Toni Morrison, Wislawa Szymborska, Nelly Sachs, Hemingway, Kawabata, Elias Canetti, Bob Dylan, Bashevis Singer, Samuel Agnon, Imre Kertész, Sartre, Beckett, Vargas Llosa, Pablo Neruda, Coetzee, Garcia Márquez, Saramago, Günter Grass, Derek Walcott, Camus, T.S Elliot, Rudyard Kipling, Gao Xingjian, Mo Yan. Além disso, o novo laureado se mistura à narrativa, fantasiando e subvertendo os textos e as vidas dos outros autores.
Livros que receberam mais de 30 indicações
De Espaços Abandonados, de Luisa Geisler
Maria Alice é introspectiva e míope; muito míope. Sua mãe, que sofria de distúrbio bipolar, desapareceu sem deixar pistas, e Maria Alice está disposta a viajar o mundo para reencontrá-la. Posts em um blog sobre espaços abandonados e exploração urbana a levam a Dublin, onde passa a viver com brasileiros que decidiram ganhar a vida no exterior, mas que perderam (ou ignoraram) o rumo. Em sua incerta busca, ela acaba seguindo o próprio desejo de se perder. Ao mesclar cartas, trechos de livros, manuais de escrita, depoimentos e arquivos perdidos em computadores, Luisa Geisler costura a vida de uma série de brasileiros auto exilados na Irlanda, em busca de um futuro melhor, ainda que não saibam o que procuram.
Tupinilândia, de Samir Machado de Machado
No início dos anos 1980, com o Brasil rumando para a abertura política, um industrialista constrói em segredo um parque de diversões. Batizado de Tupinilândia, funcionaria como uma celebração do nacionalismo e da nova democracia que se aproximava. Todavia, durante um fim de semana em que se testavam as operações do parque, um grupo de militares invade o lugar e faz funcionários e visitantes de reféns. Duas décadas depois, um arqueólogo obcecado pelo mito de Tupinilândia, chega com sua equipe e descobre um terrível segredo. A partir daí as duas pontas do romance se unem numa aventura literária pelo passado recente do Brasil e pela memória dos anos 1980.
Fonte: texto adaptado da Revista Bula