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A voz como prova de crime

A ciência forense tem se tornado cada vez mais popular, parte disso se deve as séries norte-americanas como CSI, Criminal Minds e Dexter. Apesar desse crescimento, ainda há áreas pouco conhecidas neste ramo, entre elas a fonoaudiologia forense.

A fonoaudiologia tem uma atuação bem consolidada nas áreas de saúde e educação, mas vem ganhando espaço no meio jurídico. Tudo que envolve a fala, a audição, a voz e a linguagem são de domínio da profissão e, por conta disso, juízes e advogados têm recorrido aos conhecimentos desses profissionais para solucionar alguns casos. “Atuamos em conjunto com a justiça nos processos que necessitam de um técnico para analisar situações relativas a comunicação humana”, explica Samantha Moraes, fonoaudióloga forense formada pela Ulbra.

A esquerda a fonoaudióloga forense Débora Von Saltiel e a direita a fonoaudióloga forense Samantha Moraes.

Apesar de ainda pouco conhecida, essa área é importante, não só dentro da fonoaudiologia, mas principalmente no meio jurídico e na sociedade. “Existem muitos casos em que precisamos fazer a identificação de falante ou de alguém através da imagem e, a partir do nosso trabalho, o juiz tomará uma posição” relata Débora Von Saltiel, fonoaudióloga forense formada pela Ulbra.

Situações ligadas a fraudes também são recorrentes na profissão. Segundo Saltiel, são comuns os casos em que alguém utiliza os dados pessoais de terceiros para realizar compras pelo telefone. “Ainda há sistemas frágeis que permitem essa ação, nossa função é identificar se aquela voz pertence ou não a determinada pessoa”, explica a fonoaudióloga.

As profissionais relataram dois casos de repercussão nacional que tiveram a atuação de um profissional da área. O primeiro ocorreu em 2014, durante um jogo entre Grêmio e Santos. Na partida alguns torcedores gremistas foram flagrados cometendo atos racistas contra o goleiro santista Mário Lúcio Duarte Costa, o Aranha. “Tivemos a oportunidade de atuar nesse caso, as imagens não tinham som, mas conseguimos através da leitura labial e da linguagem corporal, identificar o que eles estavam falando” relata Moraes. O segundo caso foi a gravação da conversa entre Joesley Batista e Michel Temer. O presidente não negava que a voz era dele, mas alegava que havia uma manipulação no áudio. “A Polícia Federal teve a ajuda de fonoaudiólogos que identificaram uma música de fundo no áudio, a continuidade dela durante a gravação mostrou que os tempos não haviam sido modificados”, explica Saltiel.

As duas colegas são pioneiras em fonoaudiologia forense no Rio Grande do Sul e possuem um site em que falam mais sobre o assunto. Em outros estados, como São Paulo e Rio de Janeiro, a profissão está mais consolidada. “Acho que isso se deve a falta de conhecimento do trabalho e ao fato de poucas pessoas buscarem essa formação” afirma Moraes. “No Ministério Público do Rio de Janeiro, por exemplo, tem uma equipe bem grande de fonoaudiólogos, aqui (Rio Grande do Sul) não tem ninguém” complementa Saltiel. As profissionais afirmam que, mesmo sendo um auxílio a justiça e um serviço para a sociedade, é um mercado que está em construção e precisa de profissionais que se disponham a investir na carreira.

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